Mineiros conquistam 1º lugar em competições internacionais de conhecimento

O Brasil entra em campo hoje para tentar avançar na Copa, mas em outras disputas mundo afora o país anda fazendo ainda mais bonito. São seleções de ouro, cujo o primeiro lugar foi conquistado em competições de lógica, raciocínio, números e cálculos matemáticos certeiros. Nelas, estudantes de escolas públicas e particulares, do ensino fundamental, passando pelo médio até chegar à graduação, dão mostras de como habilidades, persistência e muito esforço são peças fundamentais para fazer muitos gols em partidas limpas, nas quais o conhecimento é chave para seguir adiante no jogo e conquistar a vitória.

Durante dois anos consecutivos, eles trocaram belos passes, mas bateram na trave na jogada final. Em 2018, fizeram o gol certeiro. Deixaram para trás 110 mil estudantes com idades entre 9 e 12 anos de seis países participantes de uma das competições internacionais mais importantes de raciocínio lógico. Quatro alunos do Colégio Eros Gustavo, no Bairro São Caetano, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, levaram o Brasil ao topo do pódio na 10ª Olimpíada de Raciocínio Mind Lab e trouxeram para casa o ouro, fruto de uma disputa de dois dias no mês passado, na Turquia.

Foram 25 horas de viagem de Belo Horizonte a São Paulo, chegando a Istambul e, depois, à cidade de Antália. Além do Brasil, estiveram presentes estudantes do Panamá, Inglaterra, Austrália, Romênia e Turquia. O torneio ocorre entre alunos de escolas que usam o programa Mente Inovadora – metodologia de ensino com jogos de raciocínio de tabuleiro integrados à grade de aulas que busca estimular o desenvolvimento de habilidades metacognitivas e socioemocionais. Foram 12 partidas, sendo que cada aluno teve a oportunidade de enfrentar estudantes de todas as outras equipes participantes. Representando o ensino público, o Brasil teve como competidor também a Escola Municipal Visconde de Mauá, da cidade de Portão (RS), que ficou em segundo lugar.

O colégio mineiro coleciona títulos. É hexacampeão na etapa regional e tricampeão na olimpíada nacional, entre os meninos do 4º ao 7º ano e também entre os do 8º e 9º ano do ensino fundamental. Na etapa internacional, onde só competem os mais novos, o Eros Gustavo levou medalha de prata em 2016 e bronze em 2017. Os estudantes dos anos finais do fundamental não participam, pois o Brasil é o único país que tem uma olimpíada nacional para o 8º e o 9º ano.

“Acreditar e ter determinação”. Foram essas as características atribuídas aos vitoriosos pela diretora pedagógica da escola, Aparecida Maria Boaventura Barbosa, a Tia Cida, que há 39 anos comanda a instituição de ensino em Contagem. Ela lembra que o trabalho é árduo. Em setembro, a escola teve o “esquenta”, uma preparação para as competições. Em novembro, a olimpíada interna selecionou os quatro melhores alunos de cada faixa etária que representarão a escola. No fim de março, eles ganharam a etapa regional e, mês passado, a olimpíada nacional, que definiu os representantes brasileiros.

De Minas, a tarefa de brigar pelo título esteve nas mãos de Emanuel de Paula Santos, de 11 anos, aluno do 6º ano, e de Matheus Henrique Mendes Rodrigues, Tiago Araújo Vidal e Amanda Coura Fernandes, todos de 12 e do 7º ano. “Eles são comprometidos, responsáveis, muito bem-educados e têm a família presente”, afirma Tia Cida. “É a realização de um sonho para a escola. Ser o melhor do mundo não é para qualquer um”, diz, plena de orgulho.

Efeito positivo na sala de aula

A metodologia com os jogos de tabuleiro funciona na escola há nove anos. Desde então, as notas melhoraram consideravelmente, com destaque para matemática e redação, segundo ela. “Os meninos ficam mais centrados e a habilidade de raciocínio, melhor”, explica. O colégio sabe reconhecer esforços e premia também, em cerimônia interna, os alunos que não foram classificados para as competições, mas que ajudaram, estudando junto, aqueles que venceram a chegar no topo do pódio.

Emanuel levou ouro em equipe e também individual, com a sua especialidade: o octi. Nesse jogo, o objetivo é chegar à base do oponente. Ele diz que usou como estratégia atacar pelos lados. “Na penúltima partida, vi que seria eu o campeão. Tinha dois pontos a mais que o adversário e, mesmo perdendo, ficaria em primeiro”, conta. Para a vitória em equipe, o estreante da competição – os outros três foram para a Ilha de Creta, na Grécia, no ano passado – chamou a responsabilidade para si: “Faltava um ponto para ganharmos em equipe e eu disse que podiam confiar em mim, que eu ia vencer”.

Matheus foi medalha de bronze em equipe em 2017 e, este ano, levou, além do ouro, a prata individual no jogo quoridor, cujo objetivo é também chegar ao outro lado do tabuleiro. “A gente tem que olhar tudo o que está acontecendo ao nosso redor, algo que tem a ver com a realidade”, diz. Para ele, um pouco mais de paciência e treino foram decisivos para a vitória desta edição. Tiago, que ano passado saiu chateado com o terceiro lugar, agora, está com a certeza da missão cumprida. O menino do jogo das damas olímpicas, por meio do qual é preciso capturar todas as peças do oponente ou deixá-las imobilizadas, também acredita na maturidade da equipe: “Estávamos mais sérios no jogo, mais preparados”.

Amanda comandou o abalone. Nele, o jogador deve derrubar seis esferas do oponente para fora do tabuleiro. “Uma das táticas mais usadas é atingir o meio para ter mais controle”, ensina. “Como havia competidores que enfrentei no ano passado, tentei mudar mais as estratégias para confundir o adversário e facilitar para mim”, relata.

COMBATE A competição foi dura. Embora a equipe mineira já estivesse na frente logo no primeiro dia, foi preciso esforço e combate. Nas primeiras partidas, os alunos do Rio Grande do Sul dominaram o jogo. Passaram à frente também estudantes da Romênia. Na penúltima rodada faltava uma partida para ser campeão. Venceram as três seguintes. Para o ano que vem, fica um ar de quero mais. “O projeto vai muito além do troféu. O objetivo principal é trabalhar o cognitivo. O jogo é só um pretexto para os alunos usarem bem os recursos que no jogo são barreiras e na vida são dinheiro, água e outras necessidades. Se não souber usar, vai perder”, ressalta a professora Carla Andréa da Silva Gonzaga.

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