Minas Gerais tem a terceira gasolina mais cara do país

Minas Gerais é o terceiro estado brasileiro com a média do litro da gasolina mais alta. Apenas no Acre e o Rio de Janeiro os motoristas pagam mais caro pelo combustível, de acordo com levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). Os dados da última semana de abril, mostram que os mineiros pagaram em média R$ 4,794 pelo litro da gasolina, enquanto a média nacional ficou em R$ 4,504. Em Belo Horizonte, o valor médio também ultrapassa o do país: R$ 4,719.

Na segunda-feira passada, a Petrobras anunciou um aumento de 3,5% no preço médio do litro da gasolina nas refinarias, a partir da terça-feira. Com isso, o preço está em R$ 2,045. É o maior valor desde 23 de outubro do ano passado (R$ 2,0639). Foi o segundo reajuste em uma semana. O anterior, de 2%, ocorreu no dia 23.

O repasse de preços ao consumidor final, segundo a petroleira, depende das distribuidoras e revendedoras, do valor do etanol anidro misturado à gasolina, entre outros fatores. Mas o que se percebe é uma alta generalizada nas bombas, principalmente no interior. O peso é maior ainda nas pequenas cidades do extremo Norte do estado, onde o preço da gasolina passa de R$ 5, bem acima das médias nacional e estadual. E a notícia ruim para os consumidores é que a tendência é de que os preços venham subir mais ainda.

O valor mais alto da gasolina verificado ontem pelo Estado de Minas foi em Espinosa (31,6 mil habitantes, cidade historicamente castigada pela seca, distante 700 quilômetros de Belo Horizonte), onde o produto era vendido a até R$ 5,25 o litro na bomba. “Acho esse valor muito alto. Não sei como funciona isso (o controle de preços dos combustíveis), mas o preço deveria ser tabelado. Esse valor é injusto”, reclama o motorista Paulo Sérgio dos Santos Rodrigues, morador de Espinosa, onde trabalha com a prestação de serviços de transporte na região.

Espinosa fica a apenas 30 quilômetros da Bahia, onde os preços dos derivados de petróleo são mais em conta do que em Minas por causa da diferença de alíquota no Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Por isso, muitos consumidores do município preferem encher o tanque em cidades baianas como Urandi (a 30 quilômetros de distância) e em Guanambi (a 100 quilômetros). “Isso é até ruim para a cidade, já que o dinheiro deixa de circular aqui”, lamenta Paulo Sérgio.

Outra cidade mineira onde os consumidores precisam desembolsar mais dinheiro na hora de ir ao posto é Montalvânia (de 15,02 mil habitantes), também situada na divisa com a Bahia, a 770 quilômetros de BH. Lá, o preço da gasolina comum ontem estava a R$ 5,089,  R$0,0585 a mais do que o preço médio no país e R$ 0,769 a mais do que o valor à vista de um litro de gasolina em posto da Região Central de Brasília, por exemplo, no mesmo dia (R$ 4,320).

“O preço da gasolina aqui está surreal. E agora fora da realidade do Norte de Minas, que é uma região pobre”, reclamou a advogada Barbara Thuany Lima Belém. Segundo ela, os três postos de combustíveis têm preços “com diferença mínima”.

‘ABSURDO’

Na mesma região, em Manga, o litro de gasolina na bomba está ainda mais caro, sendo encontrado a R$ 5,100 (comum) e a R$ 5,190 (aditivada). “Isso é um absurdo. A vontade que a gente tem é de andar a pé e deixar o carro guardado na garagem”, protestou a professora Sônia Maia Vieira de Souza. Toda semana ela precisa se deslocar 108 quilômetros da cidade natal até Januária (também no Norte do estado), onde faz um curso.

Em Matias Cardoso (10,9 mil habitantes), distante apenas 12 quilômetros de Manga (as duas cidades são separadas pelo Rio São Francisco), o preço da gasolina (comum) era de R$ 5,040 ontem. “Mas, na semana passada, estava a R$ 5,16. O preço da gasolina aqui está sempre oscilando”, relata o servidor público Gilvan Machado.

Machado disse que o preço dos combustíveis em Matias Cardoso “sempre é mais alto do que em outras cidades”. Ele acrescenta que  “no município só tem um posto de gasolina e, com isso, a população fica “refém” do estabelecimento.  O servidor lembrou ainda que os preços dos combustíveis se refletem nos custos de outras mercadorias no município, como dos alimentos, por exemplo.

A situação não é diferente em Jaíba (38,4 mil habitantes), a 62 quilômetros de Matias Cardoso, também no Norte do estado. O litro da gasolina chegou a R$ 5,099 (comum) e R$ 5,179 (aditivada) em Jaíba ontem.  “Esse preço é um absurdo. Acho que é um abuso”, lamentou o motorista de caminhão Milton Ferreira da Cruz, que transporta frutas produzidas no projeto de irrigação do Jaíba. Ele também protestou contra a alta dos impostos, inseridos nos preços dos derivados de petróleo. “A gente paga muitos impostos. Só que não usufruímos dos impostos”, disse Milton.

Em Montes Claros (404 mil habitantes, cidade-polo do Norte de Minas), o preço da gasolina oscila entre R$ 4,79 a R$ 4,89. Mas já h[a postos cobrando mais de R$ 5 o litro para pagamento com cartão de crédito. É o caso do Posto Mineirão, no Bairro Santo Antono, onde a gasolina comum custa R$ 5,04 e a aditivada R$ 5,24, para pagamento em cartão; e R$ 4,79 (comum) e R$ 5,04 (aditivada) para pagamento a vista ou cartão de débito.

“Enfrentamos uma situação muito complicada com as altas e a diferença dos preços dos combustíveis”, disse o taxista Jean Carlos Gomes Ferraz, de Montes Claros. Ele reclamou ainda que há três anos a tarifa de táxi não tem reajuste na cidade e que “já perdeu a conta” de quantas altas tiveram os combustíveis no mesmo período.

PROTEÇÃO

Os reajustes quase que diários são praticados pela Petrobras desde meados de 2017 e visam acompanhar a paridade internacional, de modo a garantir participação à petroleira no mercado interno. No ano passado, porém, após forte volatilidade, a empresa anunciou um mecanismo de proteção financeira, conhecido como hedge, para aperfeiçoar essa sistemática, podendo congelar os valores nas refinarias por certo período de tempo, se necessário.

A estatal passou a atualizar diariamente em seu site o valor dos combustíveis em cada um dos 37 pontos de venda em que atua no país. Anteriormente, era publicado apenas o preço médio diário. (Colaborou Marcelo da Fonseca)

Barato, mas…
Os preços do etanol em Minas tem cenário é inverso quando se compara o valor cobrado nas bombas em Minas e do restante do Brasil. Segundo a ANP, o preço médio do litro do etanol no estado é o quarto mais barato do país, ficando atrás apenas de Goiás, São Paulo e Paraná. Mesmo com o preço entre os mais baixos do país, porém, a média em Minas ficou acima da média nacional. O valor do combustível em Minas em abril foi de R$ 3,314, enquanto no Brasil o valor médio foi de R$ 3,127.

Postos dizem que mercado é ‘livre’

O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro) afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “não é seu papel” fazer comentário sobre preços dos combustíveis.  O Minaspetro alegou que os empresários do setor têm liberdade na definição de preços. “O mercado de combustíveis é livre. Cada empresário define o seu preço, de acordo com vários fatores, entre eles localização, preços de custo, entre outros.”

O sindicato, que representa cerca de 4 mil postos de combustíveis no estado, afirmou, em nota, que “os postos, sendo o último e mais visado elo no segmento de distribuição e revenda, dependem de decisões e repasses – caso estes aconteçam – por parte dos outros agentes do setor, ou seja, governo, refinarias, usinas de etanol e companhias distribuidoras”.

A nota ainda traz críticas à alta carga tributária incidente sobre os combustíveis. “Tornamos novamente pública a insatisfação do Minaspetro, enquanto defensor dos interesses dos donos de postos de combustíveis em MG, em relação à alta tributação incidente sobre os combustíveis, que sufoca o empresário, fecha dezenas de estabelecimentos em todo o Brasil”.

A Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustiveis) também alegou que “não pode comentar aumento de preço de combustíveis”. Já a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Combustíveis (ANP) alegou que o preço dos combustíveis é livre em todo o Brasil desde 2002 e é fixado pelos próprios agentes de mercado (refinarias, distribuidoras e postos).

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